Espiritualidade cristã |
Escrito por Dirceu Mazotti |
O que é o ser humano? Muitos estudiosos gastaram grande parte do seu tempo refletindo sobre essa questão; outros, estão fazendo, ou ainda farão o mesmo. O homem sabe que ele pode dirigir-se a Deus, e isso ele o faz através da oração. “[...] Ainda que o homem esqueça seu Criador ou se esconda longe de sua Face, ainda que corra atrás de seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração. Essa atitude de amor fiel vem sempre em primeiro lugar na oração. [...]” (CIC 2.567).
Dirceu Mazotti
Referências: CATÃO, Francisco. Espiritualidade Cristã. São Paulo: Paulinas, 2009. |
Espiritualidade cristã (2) |
O artigo anterior, embora resumidamente, tratou de uma questão aparentemente simples, mas que, em determinado momento ou circunstâncias, procura-se uma resposta: Por que o ser humano é um ser religioso? O que é espiritualidade? Por que “espiritualidade cristã”? O tema é vasto e acompanha o ser humano em toda a sua experiência de vida, não se levando em conta o tempo e o espaço.
Dirceu Mazotti
Referências CAVALCANTE, Ronaldo. Espiritualidade Cristã na História. 2. Ed. São Paulo: Paulinas, 2007. GORGULHO, Gilberto (Frei). História da Libertação do Povo. In: ANDERSON, Ana Flora et al. A História da Palavra I. São Paulo: Paulinas, 2003. MONDONI, Danilo. Teologia da Espiritualidade Cristã. 2.ed. São Paulo: Loyola, 2002. |
Espiritualidade cristã (3) |
Embora o conteúdo e a forma de suas pregações eram diversificados, a palavra dos profetas nunca deixou de ser palavra de Deus numa situação precisa da História. A mensagem profética pode apresentar muitas facetas: “Nesta ação multiforme, cada qual teve sua função própria, cada qual contribuiu com sua pedra para o edifício doutrinal. Suas contribuições, porém, se conjugam e se combinam segundo três linhas mestras, aquelas precisamente que distinguem a religião do Antigo Testamento: o monoteísmo, a moral e a espera da Salvação”. (BÍBLIA DE JERUSALEM, 1995:1334-1335). O profetismo desempenhou um papel importante no desenvolvimento religioso de Israel. Por meio deles, Deus forma seu povo na esperança da salvação e na expectativa de uma nova e eterna Aliança, destinada a todos os homens. Eles anunciaram uma redenção radical e uma salvação que incluía todas as nações: “Voltai-vos para mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e não há nenhum outro!” (Is. 45,22).
Analisando a importância do profetismo, Cavalcante (2007:53-55) afirma que “A profecia retifica e corrige o povo de Deus; recoloca-o diante da Palavra divina, sem a qual ele nada seria; chama-o à fé, exigindo que tome decisões imediatas que condicionarão seu futuro; enfim, confronta-o de modo urgente. [...]. O profeta não anuncia algumas verdades, mas dá testemunho da Verdade. Coloca Israel diante de alguém, e não diante de alguma coisa. Mostra ao povo eleito quem está à sua frente: o Deus presente, o Deus vivo vindo ao encontro dos seus e intervindo nos negócios do mundo. Convictos de que Deus está ao mesmo tempo nos acontecimentos e acima deles, e de que o povo de Israel tem uma missão histórica, os profetas aí estão para lembrar esta certeza, e o fazem através da advertência, da exortação, da censura e da consolação”.
A profecia é ação da Palavra de Deus na história do seu povo; é a manifestação da fé no Deus da Revelação. “Essa fé encarna-se numa crítica à sociedade e ao Estado idólatra. Essa crítica tem seu eixo na defesa do direito dos pobres e no convite para viver a vida do Povo de Deus, na esperança da vinda do seu Reino”. (GORGULHO, 2002:34). Em consonância com esse pensamento, veja, por exemplo, a palavra de Iahweh dirigida a Zacarias: “Assim fala Iahweh dos Exércitos: Fazei um julgamento verdadeiro, praticai o amor e a misericórdia, cada um com seu nirmão. Não primais a viúva, o órfão, o estrangeiro e o pobre, não trameis o mal em vossos corações, um contra o outro” (Zc 7, 8-10).
Mas, palavra de ordem do profeta não é só uma denúncia, como também uma convocação para que o povo retorne à intimidade com Deus. Assim profetizou Jeremias: “Eis que dias virão – oráculo de Iahweh – em que selarei com a casa de Israel (e com a casa de Judá) uma aliança nova. Não como a aliança que selei com seus pais, no dia em que os tomei pela mão para fazê-los sair da terra do Egito – minha aliança que eles mesmos romperam, embora eu fosse o seu Senhor, oráculo de Iahweh! Porque esta é a aliança que selarei com a casa de Israel depois desses dias, oráculo de Iahweh. Eu porei minha lei no seu seio e a escreverei em seu coração. Então eu serei seu Deus e eles serão meu povo. Eles não terão mais que instruir seu próximo ou seu irmão, dizendo: Conhecei a Iahweh! Porque todos me conhecerão, dos menores aos maiores, - oráculo de Iahweh – porque vou perdoar sua culpa e não me lembrarei mais de seu pecado”. (Jr 31,31-34).
Do que foi exposto, é possível observar a espiritualidade que norteou a vida desses arautos. Ninguém dá o que não tem e, se o profeta comunica uma mensagem de Deus, é porque antes recebeu do próprio Deus a mensagem proclamada. Para falar em nome de Deus manteve silêncio interior para escutá-lo; viveu na presença de Deus fazendo - O centro de sua vida. Vê a Deus em todas as coisas e é capaz de descobrir o plano divino na forma que se manifesta. A espiritualidade profética foi muito bem caracterizada por Mondoni (2002:23), quando ele afirma: “A espiritualidade profética une intimamente céu e terra, Deus e ser humano, fé e vida, mística e justiça social”.
Dirceu Mazotti
Referências |